DOR

“Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente.”

(W. Shakespeare)

A busca por um alívio para esse fenômeno é uma das causas do desenvolvimento da Medicina. Da prática dos curandeiros aos sacerdotes, nos primórdios da civilização, passando pela medicina grega, romana, medieval e moderna, verificamos as tentativas que retratam a constante procura do homem por soluções que diminuíssem a dor emorações, chás, emplastros, massagens, cirurgias em odernos analgésicos.

O conceito de dor sugere,atualmente, uma“sensação desagradável, variável em intensidade e extensão de localização, produzida pela estimulação de terminações nervosas especializadas em sua recepção”. É uma experiência que,em sua forma funcional,integra os conceitos definidos pornocicepção, sofrimento e conduta dolorosa. Pornocicepção entende-se o processo neurofisiológico de detecção e sinalização de um estímulo nocivo.Sofrimento seria o conjunto de reações afetivas que surgem como resposta ao estímulo nociceptivo e aconduta dolorosa é definida como o grupo de atividades que realiza um paciente como resposta à presença de dor.

arteDor

A conduta dolorosa constitui o únicoíndice clínico observável da dor. Manifesta-se pormeiodas alterações fisiológicas (suores, batimentoscardíacos, alteração da respiração) e na expressãofacial do indivíduo.A dor pode ser classificada em dois grupos:

  • Dor aguda: este tipo é uma respostaimediata ao dano no tecido. Tem umcomponente imediato, que faz, porexemplo, uma pessoa retirar a mão daponta de uma agulha que a fere;
  • Dor crônica: é mais difusa, persiste pelo menos seis meses e inclui um comportamentoaprendido por experiências passadas.

Diferentemente da dor aguda, que é autolimitada, controlável por analgésicos, tem sua origem patogênica e pode servir como um sistemade alarme avisando que algo nele está em desarmonia; a dor crônica é autoperpetuada e raramente controlada por analgésicos. A percepção da dorcrônica seria efeito da perpetuação da “memóriade dor”.

Estímulos, lembranças e associações, relacionando ao estímulo patológico qualquer fator social ou ambiental. Nessa linha de raciocínio, na dor crônica,haveria uma forte evidência de ter sido aprendidauma característica importante de sua manifestaçãoseja a pobre correlação entre os fatores patológicose a percepção da dor pelo indivíduo. Frequentemente, os processos patológicos têm uma remissão e a pessoa ainda apresenta uma disfunçãopsicossomática progressiva. A isto se chamasíndrome da dor aprendida.

Compreensão psicológica da dor.A dor é umsintoma e, como tal, permite identificar uma doença ou lesão no corpo a fim de que sejam tomadas as devidas providências para o tratamento.Sempre que os indivíduos contêm raiva,angústia e toda sorte de sentimentos negativos,estão aumentando as possibilidades de sofrer dores,principalmente musculares. Tal contenção pode serconsequência de regras ou convenções sociais.Quando essas dores ocorrem, torna-se necessárioque as pessoas compreendam que são sinais de umcorpo que precisa ser “ouvido”; um corpo queultrapassou sua capacidade de adaptação diantedas tensões a que foi diariamente exposto (estresse).

Os problemas surgem quando as demandasexternas e internas são maiores que esta capacidadea qual varia de pessoa para pessoa.Se esta é uma forma da pessoa ignorar afragilidade de seu organismo, no extremo oposto,observa-se uma ingênua idolatria do corpo, tãoprejudicial quanto a sua negação. Assim, práticasesportivas, quando mal orientadas, torna opostulado “sem sofrimento não há prêmio” oretrato daqueles frequentadores de academia embusca de um modelo de beleza plástica a todo custo.Percebemos, assim, que a dor é, às vezes, procurada.

Por outro lado, tornar-se doente pode ounão ser uma escolha consciente, mas em nenhummomento se afirma que as dores não sejam reais.Oadoecer pode refletir a dificuldade de umapessoa de manifestar, de forma livre, seus descontentamentos; porém, somente evitando ouaprendendo a lidar com as situações que desencadeiam o desequilíbrio do organismo é que opaciente procurará o bem-estar, algo que nemsempre se torna uma tarefa fácil. Este fenômeno chama-se disfunção psicossomática.

Segundo J. McDougall apud Souza (2000), é umsintoma no qual o psiquismo se utiliza de recursosprimitivos e intraverbais que busca enviar mensagens que serão interpretadas somaticamente. Éuma resposta a conflitos de vários tipos que sãopercebidos como ameaçadores ao funcionamentodo psiquismo. Tais alterações, ainda que possamcolocar a vida das pessoas em perigo, se destinama protegê-las de um dano que poderia ser bastantegrave, caso chegasse à consciência. É como se ocorpo reagisse de modo imediato a substânciastóxicas.

Ansiedade é a reação ao perigo ou à ameaça. Cientificamente, ansiedades imediatas ou de curto período são definidas como reações de luta-e-fuga. São assim denominadas porque todos os seus efeitos estão diretamente voltados para lutar ou fugir de um perigo. Assim, o objetivo número um da ansiedade é o de proteger o organismo. Quando nossos ancestrais viviam em cavernas, era-lhes vital uma reação automática para que, quando estivessem defrontados com um perigo, fossem capazes de uma ação imediata (atacar ou fugir). Mas mesmo nos dias agitados de hoje, este é um mecanismo necessário.

A função da ansiedade é proteger o organismo, não prejudicá-lo. Seria totalmente ridículo da parte da natureza desenvolver um mecanismo cuja função primordial fosse a de proteger o organismo e, por assim fazer, o prejudicar. A melhor forma de pensar sobre todos os sistemas de resposta de luta-e-fuga (ansiedade) é lembrar que todos estão voltados para deixar o organismo preparado para uma ação imediata e que seu objetivo primordial é protegê-lo.     Quando alguma forma de perigo é percebida ou antecipada, o cérebro envia mensagens à uma seção de nervos chamados de sistema nervoso autônomo. Este sistema possui duas subsecções ou ramos: o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático.  São exatamente estas duas subsecções que estão diretamente relacionadas no controle dos níveis de energia do corpo e de sua preparação para a ação. Colocado de uma forma mais simples, o sistema nervoso simpático é o sistema da reação de luta-e-fuga que libera energia e coloca o corpo pronto para ação; enquanto que o parassimpático, é o sistema de restauração que traz o corpo a seu estado normal.

É importante perceber que, em algum momento, o corpo cansará da reação de luta-ou-fuga e ele próprio ativará o sistema nervoso parassimpático para restaurar um estado de relaxamento. Em outras palavras, a ansiedade não pode continuar sempre aumentando e entrar numa espiral sempre crescente que conduza a níveis possivelmente prejudiciais. O sistema nervoso parassimpático é um protetor “embutido” que impede o sistema nervoso simpático de se desgovernar.

Muitas pessoas têm receio do que lhes pode acontecer como consequência a seus sintomas, talvez devido a alguma crença de que seus nervos podem se esgotar e elas possam talvez entrar em colapso. Como já discutido anteriormente, a reação de luta-e-fuga é produzida dominantemente por atividade no sistema nervoso simpático, que é combatida pelo sistema nervoso parassimpático. O sistema parassimpático é, de certa forma, é uma salvaguarda contra a possibilidade do sistema simpático “danificar-se”. Os nervos não são como fios elétricos e a ansiedade não são capazes de danificá-los, prejudicá-los ou desgastá-los. E a pior coisa que poderia acontecer durante um ataque de pânico seria que a pessoa poderia desmaiar, sendo que, se isso acontecesse, o sistema nervoso simpático interromperia sua atividade e a pessoa recuperaria seus sentidos em poucos segundos. Contudo, desmaiar em consequência da reação de luta-e-fuga é extremamente raro, mas se isso acontecer, é um modo adaptativo de impedir que o sistema nervoso simpático fique fora de controle, esses mecanismos são ensinados ao paciente durante as sessões de terapia cognitivo comportamental.

Aterapia cognitivo comportamental é baseada nos princípios de que dor é, também, um comportamento socialmente aprendido e reforçado. A pessoa não é um receptor passivo de informações e pode aprender ou reaprender comportamentos mais adaptativos, isto é, que tragam maior funcionalidade e bem-estar. Acredita-se que os pensamentos podem afetar os processos psicológicos, influenciar o humor, determinar comportamentos e ter consequências sociais. Por outro lado, o humor, o ambiente social e os comportamentos podem influenciar os processos de pensamento. Nesta terapia, o tratamento para caso de fibromialgia, aprende a reconhecer os padrões de pensamentos negativos e reestruturá-los, o psicoterapeuta pode orientar técnicas de relaxamento e domínio do estresse, além de treinar habilidades de organização do tempo, regulação do sono e assim diminuem o risco de incapacitação crônica. Um recurso importante é realizar a higiene do sono, segue algumas dicas: manter horários fixos para dormir, criar ritual do sono (banho morno, musica suave, meditação, respiração lenta), evitar tomar café após anoitecer, fazer exercícios relaxantes, conferir se o travesseiro e o colchão são adequados, e procurar dormir de lado e uso de almofadas para apoiar melhor os joelhos, aliviando pressão na coluna lombar.

O mecanismo de atuação da terapia faz parte do tratamento como um todo e muitas técnicas utilizadas são de autocontrole e auto-regulação, como manejo do estresse. Algumas estratégias no manejo da dor crônica são:informar os resultados obtidos na avaliação; uso do relaxamento muscular progressivo; engajamento em atividades sociais e de lazer; exercícios físicos; reforço diferencial do comportamento adequado; desenvolvimento de habilidades sociais e treino assertivo; distração; e reestruturação cognitiva.

Os métodos de tratamento não-medicamentosos para esta e outras síndromes dolorosasse concentram na acupuntura, na hipnoterapia enas intervenções comportamentais, tais como o relaxamento, cujos efeitos têm sido satisfatórios. As várias modalidades de técnicas de relaxamento contribuem na regulação de seu tônus muscular; na liberação de uma energia, até então consumida por uma dinâmica corporal caracterizada por pontos dolorosos ou bloqueios musculares; na reintegração das partes doentes a sua imagem corporal, isto é, àquela representação que formou de seu corpo ao longo da vida; e na identificação e assimilação de conteúdos que lhe possibilitem um comportamento novo e mais adaptado.Analise seus pensamentos, sentimentos e comportamentos para compreender melhor as dificuldades. A Supere Psicologia estará sempre do seu lado.

 

Alessandro Rocha

Psicoterapeuta Cognitivo Comportamental

Mestre em Educação para Ensino em Saúde

alessandropsi@yahoo.com.br / alessandro@superepsicologia.com.br

www.superepsicologia.com.br

 

FIGUEIRÓ, J. A. B., ANGELOTTI, G., PIMENTA, C. A. M. São Paulo: Editora Atheneu, 2006.

GOLDENBERG, Evelin.O coração sente, o corpo dói: como reconhecer e tratar a fibromialgia. São Paulo: Editora Atheneu, 2014. 7º edição.

RANGE, Bernard e BORBA, Angelica. Vencendo O Pânico. Terapia integrativa para quem sofre e para quem trata o transtorno de pânico e a agorafobia. Editora cognitiva, 2008.

SOUZA, Luiz Paulo Marques de; FORGIONE, Maria Cristina Rizzi; ALVES, Vera Lúcia Rodrigues. Técnicas de relaxamento no contexto da psicoterapia de pacientes com queixas de dor crônica e fibromialgia – uma proposta.Acta Fisiátrica, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 56-60, aug. 2000. ISSN 2317-0190. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/actafisiatrica/article/view/102257/100637>. Acesso em: 28 jan. 2018.

 

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Renata Patrícia

CRP-xx/xxxxx

Psicóloga clínica cognitivo comportamental e organizacional

Pós graduação em gestão da capacidade Humana nas Organizações

Curso de formação em Psicoterapia Cognitivo comportamental

Associada da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas

Associada da Associação de Terapias Cognitivas em Pernambuco

Terapia infantil (a partir de 7 anos), adulto, idoso e familiar

Luiz Santos

CRP–02/22001

Bacharelado em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco.

Nadja Lúcia Guimarães

CRP-02/12491

Psicóloga Clínica ( atendo crianças, adolescentes,adultos e idosos)

Especialista em Terapia Cognitiva Comportamental.

Especialista em Psicopedagogia Clínica. Formação em Desenvolvimento e Aprendizagem.

Formação em Hipnose Ericksoniana.

Cleóbia Maria

CRP–02/22534

Psicóloga Clínica com Pós-Graduação em Neurociência Clínica.

Atendimentos para adolescentes e adultos.

Treinadora Cerebral (Neurofeedback) Certificada pela Brain-Trainer International.

Alessandro Rocha

CRP-02/11894

Psicólogo Clínico e Organizacional – FAFIRE/PE

CEO do Instituto Supere Conexão e Desenvolvimento Humano

Psicoterapeuta Cognitivo-Comportamental e Terapeuta EMDR

Mestre em Educação para o Ensino em Saúde - FPS/IMIP

Consultor em Gestão de Pessoas, Aprendizagem Organizacional, Mediação da Aprendizagem e Dinâmica de Grupo.

Formação em Treino de Habilidades da Terapia Comportamental Dialética (DBT) e na Terapia Racional Emotiva Comportamental pelo Albert Ellis Institute

Experiência de 16 anos em atendimento psicológico e 18 anos como professor universitário em graduação e pós graduação.

Coordenador e professor de cursos do Instituto Supere.