Você tem Autonomia ou Vício?
A partir da evolução tecnológica, a internet e o uso de suas inúmeras ferramentas (celulares, /jogos/ smartphones; mídias sociais) tem se tornado um hábito no cotidiano das pessoas. Embora o uso da internet apresente benefícios e traga satisfação, seu uso excessivo pode levar o usuário a uma condição de dependência e uso compulsivo, acarretando danos biopsicossociais.
Do ponto de vista clínico, considera-se Dependência de Tecnologia (do inglês “technological addiction”) quando o indivíduo não consegue controlar o próprio uso da internet/jogos/smartphones, ocasionando sofrimento intenso e/ou prejuízo significativo em diversas áreas da vida.
Entre os tipos de distúrbios relativos ao uso das tecnologias, é necessário diferenciar o uso abusivo, da dependência. O uso abusivo consiste no prejuízo social e na compulsão para o consumo da tecnologia. Já a dependência é o uso abusivo junto ao fenômeno de tolerância e da abstinência. Também pode ocorrer, como agravante de outros transtornos psiquiátricos, transtornos psicóticos que têm seus sintomas amplificados pela relação que o indivíduo desenvolve com a tecnologia, incluindo delírios de perseguição com conteúdo de monitorização, ou vigilância tecnológica, ou piora de funcionamentos de personalidade, em que a pessoa tende a ficar mais retraída socialmente.
A dependência tecnológica pode ser comparada a uma dependência de substância ou a transtornos compulsivos, a partir de quatro fatores relevantes, segundo (YOUNG, 2011, p. 171): “a) Um comportamento que produz intoxicação/prazer com a intenção de alterar o humor e a consciência; b) um padrão de uso excessivo; c) um impacto negativo ou prejudicial em uma esfera importante da vida; d) a presença de aspectos de tolerância e abstinência”. Mas como é possível identificar, realmente, quando uma pessoa precisa de tratamento no que tange o uso dos eletrônicos? Quando o uso da tecnologia se torna algo patológico. Ou seja, o indivíduo passa a utilizar a tecnologia (o uso de internet, jogos eletrônico e de smartphones) de forma compulsiva e repetitiva para além das necessidades do trabalho, ou do entretenimento.
Alguns sintomas que devem ser vistos com atenção. Há uma queda no rendimento escolar, ou no trabalho, isolamento social e conflitos familiares. Além disso, observam-se, também, elementos de tolerância e abstinência, caracterizados, principalmente, por alterações de humor, como irritabilidade, ou exacerbação ansiosa quando não se está em uso tecnológico. Além desses sintomas, há a necessidade de aumentar o tempo de conexão para obter a mesma satisfação; o descumprimento das horas de sono e das refeições; além do comprometimento da vida familiar, social, escolar e profissional, refletindo negativamente no desempenho das tarefas, podendo ocasionar depressão e outros problemas de saúde.
O tratamento é realizado de forma individualizada, por meio da análise do padrão de uso da tecnologia feito pelo paciente, buscando sensibilizar o indivíduo sobre o problema, que muitas vezes só é claro para os familiares. Mostra-se ao paciente o prejuízo social, a desregulação do ciclo do sono, a má alimentação, a ansiedade social desenvolvida e os sintomas de abstinência. A partir daí, o jovem, faixa etária mais comumente acometida, é motivado a se engajar no tratamento por meio de entrevistas motivacionais e de sensibilização, ressaltando que o envolvimento da família é fundamental no tratamento. A terapia Cognitiva Comportamental (TCC) é a abordagem mais indicada para esse tipo de transtorno, com evidências científicas comprovadas.
Na etapa preliminar da avaliação clínica, o médico psiquiatra avaliará a necessidade de terapêutica medicamentosa. Com relação à cura da dependência da tecnologia, esse conceito ainda é controverso. Estudos comprovam que as taxas de sucesso terapêutico são baseadas no tempo de abstinência do uso da tecnologia e no número de recaídas, havendo, então, controle do problema. Com o enfoque na tecnologia, tratando-se de uma população predominantemente jovem e com a personalidade em desenvolvimento, a partir do momento em que se consegue o reestabelecimento de um uso moderado e saudável, e isso passa a constituir um comportamento duradouro, vislumbra-se a perspectiva de cura.
É importante ressaltar, que a nova edição do Manual da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, CID-11, da Organização Mundial da Saúde (OMS), que será lançada este ano, já contempla a dependência dos videojogos como uma doença do foro mental. Após uma monitorização deste transtorno feita ao longo de dez anos, a OMS decidiu que o vício do jogo pode ser considerado um problema de saúde mental. Embora ainda não tenha sido lançada a definição final, sabe-se que este se caracteriza por um padrão de comportamento de jogo “contínuo ou recorrente”, no qual o jogador não consegue controlar, por exemplo, o início, a freqüência, a intensidade, a duração e o contexto em que joga. Quanto aos benefícios dessa decisão, é muito significativo, porque cria a oportunidade de termos atendimentos mais especializados.
Na psicoterapia cognitivo comportamental é feita uma análise seus pensamentos, sentimentos e comportamentos para compreender melhor as dificuldades em relação à dependência tecnológica. A Supere Psicologia estará sempre do seu lado!
Profª Dra Ana Paula Ferreira
Psicoterapeuta Cognitivo Comportamental
Mestre e Doutora em Psicologia Cognitiva
Email: psianapaulaferreira@gmail.com
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION: Manual Diagnóstico e Estatístico de transtornos Mentais. 5 ed. Porto Alegre, 2014;
YOUNG, S.K. Dependência de internet: manual e guia de avaliação e tratamento. Porto Alegre: Artemed, 2011.